quarta-feira, 29 de abril de 2009

Carta aos Pais

Gente, olha lá. Está ali embaixo o anúncio oficial da minha saída de Moçambique. O fim de uma etapa importantíssima na minha vida. No dia 15/5, às 15h55 vou estar embarcando para deixar a África para trás, iniciando já minha próxima aventura.

1.CAMISASCA/LUIS PAULO MR
2 SA 145 Y 15MAY 5 MPMJNB HK1 1555 1705 15MAY
3 AF 995 K 15MAY 5 JNBCDG HK1 1940 0605 16MAY

Nestes dois anos comecei a caminhar com minhas próprias pernas, me acostumando a tê-los numa posição diferente, somente velando pelo meu caminho, torcendo para cada passo dar certo, e celebrando comigo as pequenas vitórias.

E foi com minhas próprias pernas que conheci esses momentos únicos que certamente me acompanharão para o resto da vida. Um quase-casamento, seguido de uma vida livre de descobertas e exploração, que abriu caminho para uma nova paixão, com raízes européias desta vez.

Conheci centenas de novas pessoas. Sou reconhecido na rua, e admirado por diversas pessoas que nunca achei que fosse conhecer. Através dos meus próprios passos, sei que posso levar um sorriso à cara das pessoas, ou trazê-las tristeza.

No trabalho, dediquei-me de coração em alguns momentos, e tive resultados de impacto. Daquilo que eu esperava construir no meu Marketing Moçambicano, nem 50% consegui fazer, mas parece que a marca que deixei vai ficar presente por muito tempo na empresa, e isto me deixa mais satisfeito.

Todas essas experiências rasgaram meu coração, elevaram-no a alturas nunca antes experimentadas, com quedas que geraram um medo que nunca havia sentido, esvaziando minha alma, só para vê-la inflar-se no passo seguinte. Enfrentei quebras-cabeças que só eu podia resolver, com os conselhos de longe que me davam inspiração e coragem.

Essas experiências marcam. De corpo e alma estou marcado, e vou para a próxima parada mudado. Sou um novo homem, novamente. Não reconheço aquele Luís Paulo que saiu de Barcelona há dois anos. Na verdade, na maioria das vezes que lembro dele, quero dar-lhe uns belos tapas na nuca, para acordar.

Enfim, vamos de peito aberto. Não será fácil. Sei que do lado de lá as coisas são diferentes. O pequeno planeta que eu reinava agora fica para trás. Em bom tempo, para evitar acostumar-se com o conforto do trono. Por enquanto, quero uma cadeira de espinhos, que me motive sempre a andar pra frente, em busca de sabedoria e crescimento.

Um beijo e um abraço forte a todos. Por aqui está tudo ótimo.

Luis

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Apresentação do Edson à Família da Marta










Domingo passado fui à casa do Edson, em Malhazine... Lá onde o Sêo Adriano Mabote casou-se com a Dona Fátima depois de 40 anos de namoro. Pois é. Agora é a vez do filho começar os preparativos.

Presenciei a cerimônia da apresentação. Como a namorada dele mora em Inhambane, a mais de 600km daqui, tiveram que fazê-la a distância. Explico:

A Tia Fernanda, Delegada da Frelimo (partido no Governo) e mais dois tios foram encontrar a família da namorada nessa vilazinha. Saíram às 05h da matina dum sábado num onibus com bastante dinheiro no bolso e disposição para negociar.

Chegando lá, 12 horas mais tarde, caminharam mais 7km, e foram recebidos com muita festa e cerimônias tradicionais. Agora... sente-se à mesa!

Em jogo estava a filha. A namorada do Edson: Marta. Os familiares dela faziam muita questão de enfatizar para o Edson (cuja presença era dispensável no dia) que ele havia cometido erros e devia pagar multas por isso. Preço final: 2.500 meticais = 250 Reais.

As multas podem ter qualquer motivo. A dele veio por haver cometido adultério com Marta por um período de cerca de 3 anos. E ainda vai ficar devendo 1.500 meticais para pagar aos poucos. Para quê? Para fechar as entradas... garantir a exclusividade... ter certeza que ninguém vai urubuzar a menina.
Há 3 anos atrás... Edson e Marta foram pegos em flagra. Após uma noite juntos na casa dele, em Malhazine, ele foi levá-la em casa pela manhã. Ao chegar, foram pegos pelos pais dela.
- Só podes levá-la de volta pra casa!
- Nãão... dixxculpa lá... não é nada dissoo...
Depois de algum blablabla, Edson consegue voltar a casa sozinho. Bem.
No outro dia, chegam na casa dele, cinco homens, e a Marta atrás. O que vinha à frente do grupo levava um cajado na mão. Era o conselheiro.
- Você é o Edson Mabote?
- Sim. Sou eu.
- Marta, você conhece esse homem? Dormiu aqui ontem?
- Sim.
- Você gostou dele? Se divertiu?
- Sim.
- Então, deixem lá ela. Agora ele é que toma conta dela.
- (edson) Não, mas vamos lá conversar, porque...
Cajado ao ar, homens tensos, discussões em dialeto... Em suma, ela deve ficar na casa dele daqui em diante. E se um dia levá-la de volta, vamos voltar a trazê-la aqui.
Foi assim que começou o processo para o casamento. E por isto ele teve que pagar caro.
Ao final das negociações, combinaram a data do casamento para Outubro deste ano com as seguintes condições:
- A cerimônia deve realizar-se em Inhambane às custas do noivo
- Para o Lobolo (dote) a família do noivo deve providenciar:
. 2 porcos (1 femea 1 macho)
. 2 cabritos (1 femea 1 macho)
. 75kg de arroz
. 50kg de farinha de milho
. 2 capulanas mucumbe (2 costuradas por uma renda no meio) para a mãe
. 2 capulanas mucumbe para a avó
. Roupa da noiva
. Fato do pai completo
. 10 caixinhas de sumo Davida
. 1 lâmina de lenha
A partir daí, a Martinha é toda do Edson. Ou melhor: da família do Edson. Ela continua a morar com eles, e como a nora mais nova, cuida das tarefas domésticas num terreno de 300m2 e três casas.