quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Show dos Moleques

Hoje vi outro espetáculo em Maputo, mas desta vez no meio da rua. Em frente ao escritório da Total me aparecem 5 miúdos com tambores e batuques. Os vendedores de crédito da Mcel (celular) me explicam que são um grupo de música e dança. Pedem 20 meticais (2 reais) pra tocar.


Era um moleque de uns 11 anos, e outros quatro de 7. Só o mais velho tocava, o resto dançava. E que dança! Eles, vestidos com roupas extremamente simples, mexiam as cadeiras, chutando o ar e dando saltos, como se estivessem dando um show pra milhares de pessoas num Estádio da Machava (o maior daqui) lotado.

Os instrumentos são feitos de material reciclado. Os sons diferentes se davam pelo tamanho das latas e pelo material (entre madeira e metal). A bateria improvisada empolgava os dançarinos, que repassavam a energia para o público que se aglomerava em volta.

Criatividade e iniciativa em Moçambique! E vindo das classes mais baixas. Me deu uma ponta de esperança em relação a este povo tão acostumado a esperar a solução chover em suas hortas. Os moleques conseguiram juntar ali pelo menos 50 meticais em 10 minutos, e tenho certeza que juntarão muito mais com essa riqueza de espetáculo improvisado.

Realmente uma brisa fresca para desanuviar um olhar acostumado com a inércia de um povo massacrado pelas desgraças da vida.

Por: Luís Paulo R. Camisasca. Primavera de Maputo, 2007.

Rally que patrocinamos. Maputo --> Ponta D'Ouro. Fui como representante e responsável pela área. Claaaro! O trabalho bom sempre cai no marketing. :op

Espetáculo do Grupo Milorho. Sexta-feira anterior ao Dia Mundial da Luta Contra o Sida (AIDS).

Campiooooniiiii!! O time da Total ganhou o campeonato inter-gasolineiras realizado em homenagem ao Dia Mundial da Luta Contra o SIDA. Eu recebi o prêmio como capitao, mas o destaque foi para os jogadores Sênior.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Casamento - Ultima parte

Acabando esse suplício fomos ao Copo d’Àgua. Noutro subúrbio chamado “Caniço”. Ali é tão rara a imagem de um carro-banheira decorado, com mulungos de motoristas, que as pessoas não se aguentavam e gritavam nomes para nós pela rua. Os mais simples iam para o básico “Muluuungoo!!” e outros pegos de surpresa mandavam um “ê! O mulungo é o motorista dos mulandi!”. Tudo isso acompanhado de sorrisos, risadas e gargalhadas.

A noiva só sai do carro quando a seqüência de tapetes de palha estendidos entre o carro e a casa está pronta. Ela não pisa no chão até chegar lá.

Ali dentro, no chão de areia, os coros puseram-se a cantar por aproximadamente meia hora. Já 16:30 de um dia que começou cedo... demais. Já estava muito perto da hora do jantar na casa do chefe da Louise. “Vamo pra casa!”. Que nada... Cometemos a maior gafe possível. As pessoas nunca haviam sido tão magoadas na vida. Um doido ia insultando-nos pelo caminho. “I know you’re europeans... time is money. But at least have a potato before you leave!”. Parece que sair sem comer é sinal que estamos com nojo da comida. Bem, fazer o quê... fomos embora. Eles não, até as seis da manhã do dia seguinte.

Edson e sua Mulher, Marta

As pessoas seguiram diretamente para a festa na Igreja Arca da Salvação. Nós pulamos esta etapa. Chegamos à casa do Sêo Adriano às 12h para o almoço que seria seguido da festa. As pessoas viradas do Sábado para o Domingo ainda achavam energia para dançar, comer e cantar. Tudo sem bebida, uma vez que era uma festa basicamente religiosa.

O auge da festa em termos culturais foi a chegada da família da noiva. Após estarem todos os parentes do Sêo Adriano acomodados à mesa, chega um “lululululu” massivo vindo da estrada. Um ônibus com os representantes da família da noiva. Elas (todas mulheres) entraram com seus respectivos presentes na casa central e ficaram lá até o momento da entrega. E o resto da festa imóvel enquanto passavam. Nada de cumprimentos nem cooperação no coro.


Esses miúdos...

Já o auge do ponto de vista do povo foi a tal entrega de presentes. Para começar os padrinhos, que são os verdadeiros responsáveis por toda a festa, colocam o seu no meio do pátio de areia. Um armário de madeira trabalhada com portas e estantes de vidro.

Nós, como convidados de honra, entramos no ritual. Eu não tinha presente, mas tinha 1.000 contos no bolso e um discurso pronto. A Louise deu a idéia de entrarmos com as crianças cantando algo em Ronga. Escolhemos uma líder que rapidamente juntou mais dez e serviram de pano de fundo para a principal cena da festa. Com passos lentos e embalados pelo coro infantil, fomos andando rumo ao centro do picadeiro com centenas de olhos e sorrisos sobre nós, e eu com os olhos fixos no Sêo Adriano, que quase me engolia com a expectativa do que poderia vir. Não só o dinheiro, mas também o gesto.

Os noivos e os padrinhos esperando os presentes

Chegando na frente dos noivos e padrinhos, pedi silêncio às crianças e fiz meu discurso aqui reproduzido:

“Nos enche de orgulho poder estar presentes e acompanhar tão de perto este importante momento na vida do Sêo Adriano e da D. Maria de Fátima, que depois de 40 anos de namoro oficializam sua união.

Agradecemos a oportunidade de poder participar desta cerimônia, conduzindo o casal.

Desejamos a vocês tudo de melhor e mais 40 anos de namoro.”

A voz era consumida pelos ares e devorada pela pequena multidão. Já não tinha energia para colocá-la mais alta, mas puxei do fígado e foi.

Ao final da festa, já escuro, com a pouca iluminação disponível no quintal de areia do Sêo Adriano, me juntei ao Edson para entender melhor o porquê daquele convite para participarmos de uma forma tão especial daquele momento. O homem explicou-me que ele e sua família são ignorados pela sociedade: amigos e até parentes mais próximos. “Somos pobres”, ele me dizia, “e a presença de pessoas tão importantes como o Sr. Luíx Paulo e a Dona Luisa dá muito prestígio à festa. A alegria das pessoas é enorme pela presença de vocês. Meu pai está muito feliz hoje por causa disto. É uma honra muito grande para ele.”

Maputo, Julho de 2007. Texto: Luís Paulo Camisasca. Fotos: Luis Paulo Camisasca. Fotos Palácio Casamentos: Louise Ribas.

Videos relacionados a este trecho da história:
http://br.youtube.com/watch?v=SepbK9xqPK0 (entrada familia da noiva)
http://br.youtube.com/watch?v=D691fGsI0Pk (eu entregando - 03 segs)
http://br.youtube.com/watch?v=OBohHg5sUYE (eu entregando - 01 seg)
http://br.youtube.com/watch?v=w7mkpywkVGw (entrega de presentes - senhoras)

Por: Luís Paulo R. Camisasca. Inverno de Maputo, 2007.